ou pensamos...
Gostoso mesmo, é descobrir,
estarmos prontos para o limite...
Dia de cão...
(Paulo R. Boblitz - jul/2013)
Dia de cão é aquele dia em que tudo dá errado, mas cães são os nossos, sem contestação, melhores amigos...
Não entrando no porquê da expressão, o nosso dia, foi um dia de cão...
Thiago Santin, que mora em Porto Alegre, é irmão do meu amigo Rogério. Estando ele de férias em Aracaju, precisávamos fazer um bom pedal. De início, planejamos uma viagem até Paripiranga, via Itabaiana, Frei Paulo, Pinhão, Simão Dias, e por último, Paripiranga, distante apenas cerca de 7 quilômetros de Simão Dias. Seriam cerca de 130 quilômetros...
O planejamento até foi concluído, mas esbarrou na hospedagem; nenhuma vaga, em Paripiranga, e em Simão Dias... O porquê? Faculdade AGES, em Paripiranga, que lota hotéis e pousadas da região, com a meninada que quer estudar.
Ficamos sem opções, mas a criatividade resolve tudo: Rogério deu a idéia de irmos até Itabaiana, visitarmos o Parque dos Falcões, e voltarmos; o passeio seria realizado...
Marcamos a saída de minha casa às 6 da manhã, num dia bastante nublado que prometia pancadas de chuva, condição ideal para quem o Sol machuca.
- Boblitz!? Vamos nos atrasar um pouco - comunicou o Rogério, informando que o pneu dele necessitava ser reparado.
Aquelas 6 horas transformaram-se em 7 horas e 20 minutos, quando efetivamente partimos, mas tão logo nos aproximamos da saída da cidade, o mesmo pneu apresentou problemas.
Já havíamos pedalado 20 quilômetros, quando o meu pneu resolveu furar; o acostamento está cheio, literalmente inundado com pedrinhas desgarradas da recapagem.
Partimos e bem no início de Areia Branca, paramos numa daquelas barracas com frutas; chupei três tangerinas, e os dois irmãos comeram amendoim cozido. A barriga já informava a proximidade da hora do almoço, 10 e meia de uma manhã que já afugentava as nuvens...
Estávamos próximos da entrada do Parque dos Falcões, mas nenhum de nós havia se lembrado de agendar nossa visita; o encontraríamos fechado, então que tratássemos de primeiro almoçar...
Vimos uma espelunca, vimos outra, vimos o que nos pareceu um bom restaurante, e acabamos decidindo comer no Recanto da Serra do Pirata, bem mais distante, onde a fresquinha estava maravilhosa, ao sabor dos tantos verdes em que os Nelores pastavam; ao fundo, a Serra de Itabaiana indolente a verter suas águas em cachoeiras e riachos, como já conhecia desde a semana passada.
Partimos, e agora contra o vento, ar condicionado ligado, fazíamos mais força nos pedais. Chegamos na entrada onde está sendo erguida a Igreja São Francisco de Assis. Ela já está pronta para os cultos; o que falta, são acabamentos...
Descemos de nossas amigas e a fomos visitá-la, encontrando uma gostosa mistura de comum e luz, silêncio e poeira, meditação e Cristo. Um nome sugestivo ao iniciarmos o caminho até o Parque dos Falcões, que cuida de aves peregrinas feridas e maltratadas pelo homem, que bobo interfere na Natureza, apenas para o próprio deleite, sempre perverso...
São Francisco de Assis era amigo dos animais, sendo retratado sempre rodeado de pássaros...
Em frente à porta principal do jeitoso templo, de um Orelhão desajeitado, ainda tentei ligar para o José Percílio (http://www.parquedosfalcoes.com.br/), um sujeito simples, sonhador, que ainda criança começou seu amor pelos pássaros, e hoje faz dormir um Carcará, aquele que "pega, mata e come", símbolo do Nordeste faminto e seco, esse mesmo que há séculos é tratado de forma abjeta pelos tantos políticos canalhas que somente prometem, para depois lambuzarem-se nas carniças ainda vivas... Nem Urubu, que vocês têm tanto nojo, faz isso...
Precisávamos chegar até o Parque dos Falcões, uma subida relativamente curta de cerca de 100 metros, e cuidamos; não via a hora de conversar com o Percílio...
Extremamente, na defensiva... |
Tivemos a sorte de sermos encaixados numa visita que havia começado naquele instante, e fomos ouvindo as explicações do Guia, que a cada pássaro, discorria sobre os hábitos daquela criatura, bem como das condições precárias em que aquela ave ali chegou. Repito: Uma águia, um gavião, não podem ser tratados como um pobre canário, ou um curió, que prisioneiros, cantam bonito seus próprios lamentos...
Nitidamente vemos pássaros magníficos, senhores dos ares, hábeis caçadores, psicologicamente perturbados, sofredores, pois que a mão do homem os tocou...
A tristeza não está presente em todas as aves. O Carcará que coço a cabeça, chega a dormir com tanto carinho...
Esperei uma boa oportunidade e me aproximei de Percílio; queria saber se poderíamos deixar nossas bicicletas ali guardadas, enquanto subíssemos a Serra de Itabaiana, ao que ele respondeu que sim, até ensinando a trilha que deveríamos utilizar, dando tempos de subida e descida.
Feliz, saí dali mais cedo, pois era bem mais lento do que meus amigos, e a tarde já ia avançada...
Logo depois da descida do Cafuz, eles me alcançaram, mas faltava muita coisa até Outeirinhos, e a noite já se aproximava... Para piorar, meu pneu resolveu furar novamente... Tratamos dele e fomos embora, eu num ritmo além do meu, o que me cobraria dividendos mais tarde, porque me sinto mal quando atraso alguém...
A noite chegou, e com ela a escuridão que não nos permite ver por onde caminhamos. Estávamos os três sem faróis, coisa que daqui para a frente, não mais deixarei que ocorra, porque não sabemos o que pode acontecer durante o percurso...
Rezei para que a estrada se enchesse de carros, para que meu caminho fosse iluminado, pois temia um buraco maior pelo acostamento, e é lá onde eles costumam ficar, pois acostamento não é utilizado, a não ser por veículos parados; acostamento sempre é desprezado...
Finalmente chegamos onde os postes lançavam suas vidas, e terminamos nossos pedais, cansados, suados, felizes e mais experientes...
Fiz minhas contas e há pelo menos 4 meses estou sem pedalar; não é à toa, que tudo me dói... Foram 110,8 km, 1.078 metros acumulados em subidas, 9 horas e 47 minutos de efetivo pedal...
Dia de cão, dia de gato, não importa qual dia seja; importa que voltei, que essa coisa que gira, novamente está girando, como essa coisa de vida, uma hora por cima, outra hora por baixo...
* * *
e a volta, como foi?
ResponderExcluirA volta foi no escuro por bons quilômetros, onde a faixa branca da pista de rolagem, era a nossa única referência, isso quando os carros a iluminavam.
ResponderExcluirManoel lyrio, comentou:
ResponderExcluirÈ isso ai amigão vamos seguindo em frente sem desanimar, e vamos pedalar. Grande
abraço.
Minha resposta:
Meu amigo Manoel Lyrio, saudades de todos vocês. Obrigado pelas boas palavras. Grande abraço para você também