Se o mundo está pequeno,
de bicicleta, ele fica maior...
Se o mundo está em revolta,
de bicicleta, ele fica melhor...
Mundo pequeno...
(Paulo R. Boblitz - jun/2011)
Uma vez nós estávamos em nosso passeio de todas as quintas-feiras, à noite, quando sempre puxamos para a Mãe Gorda ou para a Atalaia Nova, dois pontos opostos, quando descobrimos que esse mundo é mesmo pequeno.
Quem já não teve essa experiência? Por ela, já passei algumas vezes.
A primeira foi quando encontrei um antigo amigo de infância, que por um acidente quase perdeu a mão direita. Desse dia em diante nunca mais nos vimos, pois ele perdeu aquele ano na escola, por ter que se submeter a várias operações. Morávamos os dois em Fortaleza, no Ceará, por volta de 1963.
Em 1991, no meio do nada em plena selva amazônica, fui apresentado a um amigo da empresa, e quando ouvi o nome dele e segurei aquela mão, algo diferente se passou em minha mente. Enquanto eu ainda pensava, ele me pediu para repetir meu nome Boblitz, e nos demos um bom abraço, pois não nos víamos desde que cursávamos a Quinta série. Ele estava morando em Mossoró e eu já morava em Aracaju. Aquele foi o último embarque dele, e novamente, nunca mais nos vimos.
Por volta de 1993, andando pelo centro da cidade de Manaus, ouvi aquela voz estridente, algo esganiçada a berrar meu nome. Eu atravessava a rua e, com o devido cuidado, tentava encontrar o dono daquela voz. Foi só no terceiro ou quarto berro que pude ver aquele braço gesticulando de dentro de um táxi, parado atrapalhando o trânsito, onde os outros carros já começavam a buzinar reclamando.
Ele encontrou uma vaga e estacionou. Fui até ele e reconheci nosso Motorista que nos conduzia todos os dias, de Fazenda Belém, no município de Icapuí, no Ceará, para Mossoró, onde dormíamos. Aos fins de semana, voltávamos para casa em Fortaleza. Quando foi que isso aconteceu? De 1985 a 1987.
Mossoró, uma panela quente como a chamávamos, rodeada de montanhas, a meio caminho entre a costa e o sertão, foi palco de pelo menos quatro fatos interessantes em nossa História: o Motim das Mulheres, a Primeira Eleitora do Brasil e da América Latina, a Libertação dos Escravos 5 anos antes da Lei Áurea (Abolição, uma cidade no Ceará, também reclama essa marca), e a Brava Resistência ao Bando de Lampião, que depois do episódio, nunca mais conseguiu se recuperar.
Andei por cerca de 3 anos por Mossoró, e nunca encontrei o Cabra Véio Omar por lá, vindo a conhecê-lo há poucos anos, aqui em Aracaju, onde chegamos transferidos, quase juntos em 1989, e pedalamos sempre que o tempo nos permite.
Pois foi naquela dita quinta-feira lá de cima, já quando nos dispúnhamos a voltar, que alguém resolveu modificar o percurso, fazendo com que trilhássemos pela beira do rio. Olhamos para trás e vimos retardatários, e resolvemos esperá-los debaixo de uma lâmpada, sobre um cimentado. Havia uma senhora ali em pé, que nos reconheceu e se aproximou:
- Vocês não são aqueles que almoçaram conosco lá em Brejo Grande?
Conforme a conversa se desenrolava, descobrimos ter sido em nossa primeira trilha noturna, de Propriá até Brejo Grande, onde chegamos todos com bastante sono, pegamos um barco e fomos até a foz do rio São Francisco, tomamos banho de rio, e retornamos para o almoço já pelo meio da tarde.
Daquela quinta à noite, para esse domingo logo cedo, passaram-se muitos dias, pois que o tempo sabe esperar com paciência...
Voltávamos da trilha que nos levou até a praia do Jatobá, pela areia da praia, pesada por agarrar os nossos cravos, com uma fome para lá de braba, pois não encontramos nada que estivesse aberto àquela hora. Quando largamos a areia, Raimundo lembrou de tomarmos nosso café da manhã lá no Mercado. Lembrei então daquela senhora e perguntei se o Vovô ainda se lembrava de como chegar até lá.
- Deixa comigo... - respondeu ele, pedalando.
Enquanto pedalávamos até o nosso novo destino, fui lembrando de minha nova experiência: usei hoje, pela primeira vez, um bretelle. Vocês precisam ver na hora de fazer xixi...
Chegamos, nos sentamos à sombra gostosa pela brisa fria que soprava, nos despojamos de nossos capacetes, nossas luvas, e logo o Mangabeira, esposo de dona Neuza, se aproximou. Raimundo pediu um café da manhã reforçado.
Como aperitivo, chegou logo uma garrafa de café, e a sorvemos por inteiro.
Mais um pouco, queijo coalho frito em fatias bem grossas, ovos estrelados, cuscuz com queijo derretido pelo meio, pilombetas fritas e crocantes, carne de sol em pedaços, suco de jenipapo e mais café. Nós os pegamos de surpresa...
Se João de Deus, o Macaxeira, estivesse lá, teria dito:
- Só faltou a macaxeira...
Estávamos apenas seis, pela ordem cavalheira, Rosita, e pela ordem alfabética, Arruda, eu Boblitz, Chê Nestor, Raimundo e Vovô. Tomamos um café da manhã sob um telheiro que avança sobre o rio, ao som das águas leves que se chegam em suaves ondas. Do outro lado do rio, Aracaju..., e imaginei estar ali à noite, vendo o tremeluzir das luzes na água que não pára de marolear.
- Seu Mangabeira!? - chamei.
- Como é que funciona? - perguntei.
- Todos os dias da semana, de domingo a domingo, café da manhã e almoço, mas servimos também no jantar, se telefonarem marcando. Nossa especialidade é pirão de galinha de capoeira, pirão de peixe e pirão de guaiamum, claro, com os respectivos acompanhamentos. Quem cozinha, é minha esposa, a Neuza. Tudo aqui é caseiro...
- Então escreve aqui o endereço com o telefone... - pedi, debaixo de um largo sorriso dele.
Bar e Restaurante Mangabeira - rua B, loteamento Beira Rio - Barra dos Coqueiros (ao lado da ponte) - fones: (79) 9828-4657 ou (79) 9973-8362.
Pena, não ter levado minha máquina fotográfica, mas já vou acertar com a minha Patroa, um almoço por lá. Quanto pagamos? Vocês não iriam acreditar...
Não, não ganho nada em mostrar as coisas boas para os outros, mas se foi gostoso para mim, deverá ser também para vocês, afinal de contas, esse mundo não é pequeno..?
* * *
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