Tamanho do bolo... (uma crônica sem fotos)

Dizem que tamanho não é documento.

Concordo plenamente...




Tamanho do bolo... (uma crônica sem fotos)
(Paulo R. Boblitz - mar/2011)

Agora, toda vez que eu vou cagar, lembro do cachorro do amigo... Não, não, não. Não é o amigo que é cachorro; refiro-me ao cachorro que ele cria...

É certo que ainda é horário de almoço, alguns já almoçaram, outros ainda almoçarão, mas cagar é algo tão natural quanto almoçar, aliás, não fossem os almoços, aquelas não existiriam.

Sobre a palavra cagar, também não vejo problemas, até porque para algo que fede, não existem palavras boas, ou não deveriam existir...

Mas onde é que entra o cachorro que meu amigo cria?

Numa conversa do tipo despreocupada, a divagarmos sobre a Natureza, os pássaros, o friozinho das manhãs, descambamos, não por minha culpa, mas dele o meu amigo, que disse ter que recolher todos os dias, logo cedo, os montinhos que os cachorros fazem.

Confesso que enquanto ele relatava, eu me via podendo andar por aquele jardim, despreocupado, sem medo algum de pisar em vidro mole.

Numa conversa, seja ela qual for, sempre acabamos nos exaltando, aqui me referindo ao grandioso que tornamos, a tudo aquilo que costumamos realizar, até por conta de que todo mundo tem um ego.

E saiu-me o amigo com uma grande observação: os cachorros dele, estavam cagando menos...

Juro que fiquei interessado, pois como é que ele poderia saber? Teria ele, pesado antes e depois? Estariam, aqueles devidos quibes malcheirosos, agora cabendo mais folgados no recipiente utilizado?

- Ração de boa qualidade... - respondeu-me ele.

- Melhorei a ração e agora o aproveitamento é melhor, restando menos para ser jogado fora, cagado, melhor dizendo... - ele complementou.

Pois bem, agora que melhorei a minha ração, por conta do meu ácido úrico nas alturas, motivado pelas cervejas e iguarias ricas em purinas, ou seja, comendo apenas folhas e legumes, a "coisa" diminuiu pela metade...

Metade..., e me lembro quando paramos eu e o João de Deus, no nosso último dia do Caminho da Fé, em nosso penúltimo lugar para mais um carimbo em nossas cartelas, eu injuriado para arrumar algum lugar, e a Freira demorando em nos atender. Isso mesmo: era uma espécie de convento...

Numa pedalada vigorosa, e já estávamos nela há 9 dias, cada dia pior do que o passado, acabamos comendo feito cavalos... Quem já passou por isso, sabe como é, pressão para baixo, pressão da sela para cima, e nós no meio da confusão...

- João, eu tenho que cagar... - segredei-lhe, já apertando os olhos.

- De jeito nenhum! Você não vai cagá no convento..! - repreendeu-me o João.

- Mas não tá dando mais, João...

- Não quero nem saber... Já pensou?, cagá aqui nas freiras.!? De jeito nenhum! Vá cagá no mato! - ele foi peremptório.

Então apareceu uma senhora bem idosa, um sorriso lindo em simpatia, nos mandando entrar. Era a deixa que eu precisava...

- Irmã, a senhora tem um lugarzinho onde eu possa usar? - escolhi bem as palavras.

- Claro, meu filho... Logo no final do corredor, à esquerda...

O João ainda me olhou com cara feia, mas não dava mais tempo, nem dele me segurar, nem tampouco de eu segurar, e fui caminhando num passo apertado, passadas bem calculadas, o suor atrapalhando, pois sempre suamos muito... Confesso: era um banheiro para os anjos, de tão limpinho e cheiroso.

Metade? Ainda hoje, sinto remorsos...

Não me tornei vegetariano, mas estou orgulhoso por contribuir com a natureza. Precisam ver, quero dizer, acreditar como diminuiu...

E para terminar, para quem tem certo preconceito com termos ou temas abordados, ou até mesmo nojo, reflito que conversar merda ou sobre merda, também é construtivo, pois jamais me havia passado pela cabeça, que a quantidade por nós elaborada, até mesmo obrada, seria inversamente proporcional à qualidade ingerida.

Vocês vão fazer um teste, não vão..?

* * *

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