O que é o Caminho, se temos a Fé?
O que são as dores, se temos a perseverança?
O que são os desencontros, se temos a Natureza?
O Caminho da Fé
(Paulo R. Boblitz - ago/2010)
O chamado: 28 de janeiro de 2010, às 10 da noite, aparecia em minha bandeja o convit

Deixei para examinar no dia seguinte, pois já estava envolvido em carregar minhas fotos no orkut, tarefa simples e complicada ao mesmo tempo, pois ficamos sempre a depender das simpatias do sistema.
De manhã, enquanto tomava meu banho que sempre leva para o ralo os meus problemas do dia anterior, já ia pensando no assunto, lembrando do Caminho de Santiago de Compostela que também um dia havia começado assim, por um convite...
Lembrava mais do Caminho de Santiago, para mim, 800 km a pé, do que pensava nesse da Fé, talvez uns 120, visualizando um mapa em minha mente, onde São Paulo e Minas se misturavam.
Ligando o computador, fui pesquisar aquela rota e fiquei contente, a coceira adormecida voltava novamente a coçar, montanhas eu teria que atravessar, cerca de 500 km a percorrer, numa paisagem tão bela quanto a européia...
Olhei para a esposa que tirava todas as minhas camisas amarrotadas dos cabides, já guardadas no guarda-roupa, por mim lavadas, no tempo em que ela ficou fora visitando a mãe doente, e relutei se contava ali naquela hora ou deixava para contar num gostoso jantar. Resolvi contar num jantar só nosso, e a convidei...
- Mas a caminhonete está cheia de ferros..! - lembrou-me ela.
Concordei lembrando também, e até avisei que ainda ficaria mais cheia, pois faltavam os arames e o cimento... Resolvemos deixar para uma outra noite mais amena; ainda faltavam muitos meses; havia tempo... Dei-lhe um beijo e fui embora...
No trabalho, liguei para o Omar, para o João de Deus e para o Fernando; deixei-os todos com minha certeza; podiam contar comigo... Gilton apareceria mais tarde, de última hora, ocupando a vaga do Fernando, que não pôde ir.
O porquê: pessoalmente não sei responder, e acho que os outros três também não. Não se trata de Fé, posso afirmar, mas tão somente pelo prazer de sentir a terra nos pés, o vento a passar, os pássaros cantando, a vista a perder de vista, coisas que mais reforçam nossa Fé, isso posso garantir...
A viagem: tomamos o avião de madrugada, vôo direto até Guarulhos em São Paulo, onde tomamos a Van do Nailton que nos transportou até Tambaú, onde chegamos por volta das 11 e meia. Fomos direto para a bicicletaria do Edu, onde montamos nossas bicicletas e trocam


Mais à frente o descobrimos, sentado à sombra, olhar de Peregrino, que vê sempre ao longe, no horizonte, o que

Nos despedimos e seguimos, mais tarde chegando em Casa Branca onde nos alojamos no Hot

Saímos para jantar, Pizzaria Mamma Mia, que nos

Dia seguinte, noss


Mais tarde chegava

Acordamos na manhã gelada, nos arrumamos e tomamos nossa primeira refeição do dia, numa gostosa cozinha aquecida pelo fogão de lenha. Partimos e descobrimos que nossos Anjos da Guarda foram hábeis nos fazendo permanecer, pois as ladeiras que enfrentamos, dificilmente

Almoçamos num restaurante caro e acabamos não conhecendo a cidade; uma grande bobagem que fizemos...
Acordamos e partimos p

Lá de cima, Andradas encravada num vale, ilhada por montanhas por todos os lados...

Eu estava radiante, pois havia sido mais um dia de vitória; ouvira macacos berrando no interior da mata, produzindo ecos nas tantas rochas expostas. Os pássaros também são uma fortuna para quem quer escutá-los, variados nas linguagens, nos encantam com suas músicas naturais, sempre escondidos, quem sabe nos alimentando no esforço..?
No hotel verifico que estou muito queimado, lábios rachados, pontas dos dedos doloridas, alforjes imundos...; descubro tam

No meu quinto dia, de Andradas a Ouro Fino, troco minhas sapatilhas pelos tênis - deixo de ser ciclista para se

Dali em diante não seguiria mais nenhum roteiro, nenhuma meta... Sentei à sombra e comecei a escrever, apenas minha bicicleta de lado, silenciosa aguardando a hora de eu montá-la novamente; dali em diante eu pararia onde me desse na telha, pernoitaria onde eu resolvesse, não import

Andei muito pelo Caminho da Fé; pedalei muito também. Andar faz parte, e toda vez que andava, lembrava do Caminho de Santiago...
Quando voltei de Santiago de Compostela, prestei atenção naqueles trabalhadores que passam o dia inteiro empurrando um carrinho com uma carga qualquer; descobri que meus 800 km não eram nada, diante das caminhadas diárias que eles se obrigam a fazer para ganhar a vida, que é difícil de ser ganhada.
Hoje trilhando pelo Caminho da Fé, muito mais difícil que o Caminho de Santiago, me dou co

Empurrar uma bicicleta ladeira acima é mais desgastante do que carregar uma mochila às costas; homem e bici brigam pela harmonia, resultando num andar torto, numa postura que certamente cobrará lesões mais tarde.
Fizemos o Caminh

Qualquer atividade envolve lideranças, adrenalinas, praticidades, interesses, prioridades, calmas, pressas e tantas outras coisas...
Enquanto vou escrevendo, noto um passarinho nervoso na galhada sobre mim; ele pula de um galho para outro, talvez pensando que eu queira o ninho dele. Me apresso e vou embora, deixá-lo tranqüilo...

O simples parar nos apresenta muitos sons; escutamos ao longe e muito perto, a folha seca a cair, a vespa a nos incomodar atrás de sal, o som da caneta a arra

Paro de escrever para atender ao Seu Francisco, que vem a mando do Gilton para ver se estou bem. Confirmo que sim e conversamos um pouco, afinal ele traz alforjes também; mais na frente, descubro o Gilton à sombra, parado há mais de uma hora me aguardando - conversamos e dali em diante ele não me aguardará mais.

E segui pensando em Deus, que Dá e que Tira, ou simplesmente Deixa acontecer, para que cresçamos... Lá em cima deparei com uma vista maravilhosa e parei...
Os desafios se apresentam e se ren

Por instantes pareço gigante a andar em passadas sobre os picos, longe das outras formigas que não param de correr no ir e vir de todos os dias. Deus é grande e me quer no lugar onde estou, afinal, quem não gosta que de sua Obra falem bem? Aponto o dedo e digo: é para lá que eu vou... Monto e pedalo com mais vigor, afinal, qual alma livre não pesa menos?
Cheguei em Tocos do Mogi (pronuncia-se Tócos com a tônica aberta), acho que próxim

Estava já bem frio quando terminei meu banho; olhei no espelho e meus lábios estavam mais rachados ainda, limpei o nariz e sangue saiu, como há dias vinha saindo por conta do clima seco. A ponta do nariz estava ferida, a barba por fazer me dava o ar do descuido, mas quem se importava?, afinal a ida

Lavei minha roupa e saí, descobrindo a Pastelaria do Zé Bastião, que faz pastéis com farinha de milho e polvilho azedo - comi 8, de queijo.
Havia esquecido de colocar o GPS para carregar, por isso o dia de hoje, dia 6, passou em branco; serei obrigado a traçar a minha rota no Google Earth, calculando distância e altimetria. Tomei um conhaque e fui dormir, pois

Acordo renovado e descubro a voz do Wanderley tentando carimbar o passaporte dele. Saio a tempo de começar o dia andando com ele, Tenente do Exército brasileiro; tomamos café numa padaria e seguimos - na primeira ladeira ele me supera, pois a bicicleta atrapalha. Depois o alcanço e vou embora - só nos encontraríamos n

Enquanto sigo meu Caminho, deparo com uma imagem singular: "Tortuosas", como chamo o momento de encanto, como a própria vida é. A velhice limita mas não incapacita; depende do querer, a primeira coisa a se fazer, e o resto se arranja...

Estou perto agora de Consolação, acho que a uns 5 km, quando paro para conversar com 2 Colonos que consertam uma porteira; um deles me pergunta se estou cansado e eu respondo que sim, afinal as ladeiras foram muitas...
- Para subir, Deus ajuda...; para descer, Deus nos acuda! - gargalhando respondeu ele na sabedoria peculiar do C

E ele estava certo, pois nas primeiras horas a caminho de Paraisópolis, começaram a fisgar, virilha direita e joelho esquerdo. Pensei nos meus amores e logo delas duas esqueci, mas segui pelo caminho errado, dando no asfalto a 7 km de Paraisópolis. Não vendo as setas, parei e perguntei...
- Todos os caminhos, quando queremos, nos levam ao destino certo... Pode ir em frente, sem cuidado... - respondeu-me o bom homem.

Depois que parti de Paraisópolis, com o sol bem quente, me senti meio tonto e necessitado para ir ao banheiro; antes que me sentasse à beira do Caminho, uma placa acolhedora me mostrou a apenas 500 metros, a Pousada Casa da Fazenda, um casarão que me recebeu de braços abertos, onde fiquei a conversar por mais de meia hora com o Edison Ferreira, proprietário, que ainda me forneceu água boa, pois a minha havia acabado.
Partindo, encontrei três moças e um rapaz descansando todos à sombra. Parei e descobri que estavam em reconhe

Chegar ao fim..., aconteceu quando eu chegava em Luminosa, parado a bater uma fotografia da cidade lá embaixo, quando escutei uma bicicleta frear perto de mim. Heder, um tanto desconcertado por me ver de alforjes, perguntava para que lado ficava São Bento. Olhei para ele e vi um olhar vago, confu

Perguntei-lhe se fazia o Caminho da Fé e diante de sua negativa, disse-lhe que ele estava perdido. Ele olhou para mim como se não acreditando, olhou minha bagagem e pensou em voz alta:
- Não estou perdido...; estou muito perdido..! - enquanto sacava um mapa do rali, que nada tinha a ver com o local onde estávamos.
Aconselhei-o a descer até

Na Pousada Nossa Sra. das Candeias, encontrei o Heder tomando 1 litro de coca-cola, já bem informado do rumo que teria que tomar para seguir a própria prova; aceitei 1 copo e brindamos a sorte.

Novamente fiquei com a pousada só para mim, pois todos haviam subido 4 km acima, para ganhar tempo, ganhar terreno, onde tempo não se ganha e nem se perde - apenas é utilizado...

Dona Ditinha até começou a citar as 5 razões para se fazer o Caminho da Fé, mas algo a impediu de citar os outros, parando no segundo item. Em

Sorridente, em meio de uns goles de Baden-Baden, uma cerveja local e muito saborosa, escreveu os 5 sentidos de Dona Ditinha, que é magistral també

22 de agosto, acordo bem cedo para minha penúltima etapa, Luminosa - Campos do Jordão, mas Dona Ditinha ainda está dormindo. Não faz mal, vou até o varal e pego todas as minhas roupas, geladas pela noite fria. Começo a arrumar meus alforjes, tomo um banho e já estou pronto. Dona Ditinha ainda está dormindo, pois a cozinha está deserta.

Pago a conta, me despeço de todos e vou embora, pois Luminosa é um verdadeiro suplício para sairmos dela. A serra é empinada e comprida; por duas vezes fiquei alegre pensando que havia chegado ao topo...

Vencida a serra, inicio a descida pedregosa, deparando

Fui para a lateral sem muita escolha, mãos em agonia apertando os freios, até que uma areia solta me prendeu e me estacou. Foi uma queda boba, quase parado, de lado rolando pelo dorso esquerdo, cabeça erguida. Não me machuquei, a não ser o próprio orgulho, mas isso também faz parte...
Levantei sacudindo a

Finalmente alcanço o topo e começo a descer, deparando com o asfalto que novamente subia, mas tudo afinal tem um li

Logo eu partia ladeira abaixo, um conjunto de curvas fechadas onde numa delas meu Anjo me aprumou, quando passei deslizando freado reto para a contramão, aproximando-me perigosamente do precipício - um carro acabara de passar...




Acordamos para o nosso últ


Mais uma vez a pressa

As estatísticas desse Caminho, são mais umas dentre tantas outras conhecidas. Pedalei e andei por cerca de 475 km em 10 dias. Subi 11.958 metros no acumulado, uma belíssima montanha se existisse; não sei o que esse esforço representaria no plano. Os trajetos, para quem busca informações detalhadas, estão relacionados em vários sítios e depoimentos. O que vale é o que você pretende sentir, se f



O Caminho é e sempre


Se você vai fazer o Caminho de bicicleta, melhor seria fazê-lo a pé, pois nele não existem os campeões, os mais fortes, os heróis, os líderes; nele existirá apenas você consigo mesmo. De bicicleta, passa rápido demais...

Mas de vez em quando é bom dar uma espiada, verificar o que deixamos, ou o que plantamos, até mesmo se o que acreditamos ainda é verdade...
Bom é olharmos para o futuro, nele enxergarmos o que esperamos, nosso passado projetado, aquilo que um dia foi sonhado...

Acreditei, como ainda acredito, que fazer é construir, é legar, é tornar-se eterno pelas lembranças, que um dia recordarão, quem um dia olhar para trás e ali me reconhecer...

Vou fazer, e refazer, e um dia, quem sabe poder sorrir..., por entender que mesmo a verdade não era por inteiro, plena como percebia...
Fazemos a nossa parte, pois que a nós é confiado um legado..., pois que um dia fizeram por nós...
A todos vocês, um bom Caminho; as asas são suas...
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Mais algumas fotos:dia 1 - 14/ago: Tambaú - Casa Branca



Dia 2 - 15/ago: Casa Branca - Pousada de Dona Cidinha




Dia 3 - 16/ago: Pousada de Dona Cidinha - Poços de Caldas



Dia 4 - 17/ago: Poços de Caldas - Andradas



Dia 5 - 18/ago: Andradas - Ouro Fino



Dia 6 - 19/ago: Ouro Fino - Tocos do Mogi (com GPS descarregado, tracei depois a rota no Google Earth e retirei os dados de distância e altimetria)



Dia 7 - 20/ago: Tocos do Mogi - Consolação




Dia 8 - 21/ago: Consolação - Luminosa



Dia 9 - 22/ago: Luminosa - Campos do Jordão



Dia 10 - 24/ago: Campos do Jordão - Aparecida



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Observações:
- Todas as fotos foram batidas pelo Autor, com uma Canon Power Shot SX200 IS, e podem ser encontradas no Orkut (http://www.orkut.com.br/Main#Profile?rl=ls&uid=1027002752297245515) e Facebook (http://www.facebook.com/reqs.php?fcode=4ae2c7411&f=100000558354577#!/profile.php?id=1328110035) - minha filha me ensinou como fornecer os 2 endereços.
- Na tabela que construí com os dados colhidos do GPS, uma prova que o corpo se supera quando solicitado, desde que esteja bem e saudável. Estive praticamente parado no mês que antecedeu o Caminho. Notem os batimentos cardíacos, melhorados dia a dia, embora os dias tenham ficado piores a cada etapa - subir a serra de Luminosa quase me mata... Houve momentos em que empurrava a bicicleta para cima, e ela teimava em descer novamente.
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Minhas recomendações:
- meus alforjes, bolsa de guidão e mala-bike, foram da ARARA UNA:
http://www.ararauna.esp.br/
(16) 3133 1229
(11) 8242 3092
vendas com Fábio Fes
- meu equipamento GPS, foi Garmin Edge 705 Bundle:
http://www.sportsonline.com.br/
(41) 3336-9462
(11) 4063-6472
- meu Guia do Caminho foi escrito pelo ANTONIO OLINTO:
http://www.olinto.com.br/
- o sítio para informações sobre o CAMINHO DA FÉ:
http://www.caminhodafe.com.br/
- nosso competente e gentil transporte entre Guarulhos/Tambaú, Aparecida/São Paulo, e São Paulo/Guarulhos (recomendado pelo Sampa Bikers):
Nailton Ernesto
(11) 8496-4642
(11) 7739-1554